Pesquisa indica que brasileiro <br> não sabe mais em quem confiar
Denúncias diárias em jornais revelam uma política manchada pelos escândalos. Em meio a notícias sobre mensalão, sanguessugas e dossiê encomendado, o brasileiro não sabe mais em quem confiar. Desconhece, inclusive, os órgãos responsáveis pelo combate à corrupção no país. Atribui a responsabilidade ao Ministério Público da União (MPU), à Polícia Federal e à própria sociedade civil. A falta de informação deixa à mostra as falhas de um sistema de combate ao uso ilícito da máquina pública, como a sua distância da população. A constatação foi feita por alunos da disciplina Teoria e Análise da Corrupção, do curso de Ciência Política da Universidade de Brasília (UnB).
Coordenados pelos professores Ricardo Caldas e Robson Pereira, os estudantes entrevistaram 839 pessoas de todas as cidades do Distrito Federal para tentar responder à pergunta: "Em quem o povo confia?". Os dados foram coletados entre os dias 7 e 17 de setembro, durante a campanha eleitoral do primeiro turno.
Entre os resultados mais impressionantes, estão os relacionados ao Tribunal de Contas da União (TCU) e à Controladoria Geral da União (CGU). A maioria dos entrevistados (55,1%) afirmou desconhecer as atribuições do TCU, o principal órgão de fiscalização do dinheiro e dos bens públicos. Entre os que conhecem o Tribunal, 39,6% não confiam no seu trabalho. "Considerando que 3,5% não responderam ou disseram "não saber", é possível que esse número seja mais alto do que o indicado", acrescenta Caldas.
Situação pior acontece com a Controladoria, órgão que responde pelo Brasil perante a Convenção das Nações Unidas contra a Corrupção (UNCAC). Suas atribuições são desconhecidas por 68,4% da população. Entre os 27,3% que têm noção do trabalho da CGU, 40,6% não acreditam na sua eficiência. " Isso mostra que o povo não está incluído no processo. Essa ausência de interação pode gerar um sentimento ainda maior de impunidade e o aumento do desvio de verbas", afirma o professor da UnB.
De acordo com Caldas, a falta de confiança em relação às instituições pode influenciar na maneira como é feita a fiscalização. "A percepção desses órgãos pela população aponta para uma reflexão mais apurada de como a corrupção está sendo combatida no Brasil e como deveria ser", avalia. Segundo Caldas, as pessoas deixam até mesmo de denunciar quando não acreditam na instituição.
Ainda há esperança
A pesquisa mostra, no entanto, que o brasileiro ainda tem esperança. A maioria (86,2%) acredita que o uso ilícito dos bens públicos pode ser combatido. Para assumir a difícil tarefa, os entrevistados afirmaram que o Ministério Público da União (24,4%), a Polícia Federal (22,8%) e a própria sociedade civil (22,7%) são os mais indicados. De acordo com o professor Robson Pereira, a confiança nesses dois órgãos tem motivos diferentes.
"A PF se mostrou muito eficiente nos dois últimos anos, e a população percebe isso. O MPU, por sua vez, tem determinado melhor seu tipo de ação", explica Pereira.
A responsabilização da sociedade por parte da própria população chamou a atenção dos pesquisadores.
"Chegamos em um momento de amadurecimento, em que o povo percebeu que precisa participar mais do processo", afirma Pereira. Segundo os professores, esse despertar da sociedade deve-se, principalmente, a uma profunda decepção com os Três Poderes que, ao invés de combaterem a corrupção, abrem espaço para ela.
Os pesquisadores encontraram outros dados interessantes sobre a relação entre a população e os políticos brasileiros. Em meio à campanha eleitoral para o primeiro turno, 90,1% dos entrevistados disseram não confiar nos políticos em geral. Pouco mais de 73% não acredita no trabalho dos senadores. Em relação à Câmara Federal, o resultado foi ainda mais alarmante: 85,7% das pessoas não confiam nos deputados. Caldas percebe essa insegurança como um reflexo inevitável dos vários escândalos, mas teme suas conseqüências. "Momentos de grande desconfiança nos meios de legislar podem permitir brechas para pers