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“O crack é uma escravidão”

Ao deparar com o envolvimento de dois amigos com o crack, a jornalista Ana Paula Nonnenmacker, 27 anos, mergulhou em um submundo repleto de histórias tristes e desesperadoras. Decidida a ajudar os amigos e a conhecer de perto a problemática da droga, Ana Paula passou 11 meses frequentando bocas de fumo e pontos de prostituição. Nesse percurso, a curiosidade se transformou no livro Meninos do Crack.
24/06/2010 Atualizada em 21/07/2023 10:58:28
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Ana Paula Nonnenmacker, autora do livro “Meninos do Crack”



Ao deparar com o envolvimento de dois amigos com o crack, a jornalista Ana Paula Nonnenmacker, 27 anos, mergulhou em um submundo repleto de histórias tristes e desesperadoras. Decidida a ajudar os amigos e a conhecer de perto a problemática da droga, Ana Paula passou 11 meses frequentando bocas de fumo e pontos de prostituição. Nesse percurso, a curiosidade se transformou no livro Meninos do Crack. Em entrevista a Zero Hora, ela dá detalhes sobre a experiência que resultou na obra, que narra a trajetória de 50 dependentes com quem conviveu por meses:



Zero Hora – Por que o interesse pelo tema?



Ana Paula Nonnenmacker – A partir da convivência com duas pessoas que eram usuárias do crack. Os dois eram meus amigos. Eu via que eles queriam largar a droga, se internavam, mas recaíam. Questionava -me que droga é essa que consegue levar tão rápido ao fundo do poço.



ZH – Como surgiu a ideia do livro?



Ana Paula – Eu me sentia impotente pela situação, então comecei a pesquisar sobre o assunto na internet. Comecei observando uma boca de fumo perto da minha casa até que criei coragem e abordei um usuário. Entre idas e vindas, ele começou a me contar sua história. No início, eles não gostavam da abordagem, mas aos poucos fui conquistando mais pessoas e comecei a conhecer esse mundo.



ZH – Os usuários têm noção que estão fazendo mal para si próprio?



Ana Paula – Eles sabem o mal que a droga causa. Eles até querem largá-la, mas não conseguem. Dos 50 que entrevistei, só um deles eu sei que conseguiu cair fora. Eles se tornam escravos do vício.



ZH – A senhora conseguiu traçar um perfil social desses usuários com quem conversou? Há relação com outras drogas?



Ana Paula – Com certeza. A falta de uma estrutura familiar é um dos principais motivos. Alguns também têm muita liberdade. Não possuem limites. E tem também a relação com as outras drogas, claro. Ele começa na maconha, vai pra cocaína e acaba no crack. Só que quando chega no crack ele não tem mais volta.



ZH – Por que isso acontece?



Ana Paula – É uma droga muito potente. O efeito do crack também é muito rápido. Depois que ele usa o crack, ele nem quer saber de algo mais leve. É uma escravidão.



ZH – O que traficantes dizem?



Ana Paula – Eles sabem o que estão fazendo, mas não se importam muito. Eles deixaram bem claro para mim que é o usuário que vai até lá, e não o contrário.



ZH – O que a senhora viu de mais marcante neste período?



Ana Paula – Teve um caso que me marcou. Um menino de 18 anos que teve a mão cortada por causa de dívida de R$ 50 com um traficante.



ZH – O que pode ser feito?



Ana Paula – Não nos resta outra coisa a não ser trabalhar na prevenção. Claro que o Estado tem de investir em estrutura para atender esses viciados. Se não tiver como recuperar fica difícil de mudar nossa realidade. Muitos entram nisso por curiosidade. Temos de chegar neles antes disso.



Zero Hora – Por que o interesse pelo tema?



Ana Paula Nonnenmacker – A partir da convivência com duas pessoas que eram usuárias do crack. Os dois eram meus amigos. Eu via que eles queriam largar a droga, se internavam, mas recaíam. Questionava -me que droga é essa que consegue levar tão rápido ao fundo do poço.



ZH – Como surgiu a ideia do livro?



Ana Paula – Eu me sentia impotente pela situação, então comecei a pesquisar sobre o assunto na internet. Comecei observando uma boca de fumo perto da minha casa até que criei coragem e abordei um usuário. Entre idas e vindas, ele começou a me contar sua história. No início, eles não gostavam da abordagem, mas aos poucos fui conquistando mais pessoas e comecei a conhecer esse mundo.



ZH – Os usuários têm noção que estão fazendo mal para si próprio?



Ana Paula – Eles sabem o mal que a droga causa. Eles até querem largá-la, mas não conseguem. Dos 50 que entrevistei, só um deles eu sei que conseguiu cair fora. Eles se tornam escravos do vício.



ZH – A senhora conseguiu traçar um perfil social desses usuários com quem conversou? Há relação com outras drogas?



Ana Paula – Com certeza. A falta de uma estrutura familiar é um dos principais motivos. Alguns também têm muita liberdade. Não possuem limites. E tem também a relação com as outras drogas, claro. Ele começa na maconha, vai pra cocaína e acaba no crack. Só que quando chega no crack ele não tem mais volta.



ZH – Por que isso acontece?



Ana Paula – É uma droga muito potente. O efeito do crack também é muito rápido. Depois que ele usa o crack, ele nem quer saber de algo mais leve. É uma escravidão.



ZH – O que traficantes dizem?



Ana Paula – Eles sabem o que estão fazendo, mas não se importam muito. Eles deixaram bem claro para mim que é o usuário que vai até lá, e não o contrário.



ZH – O que a senhora viu de mais marcante neste período?



Ana Paula – Teve um caso que me marcou. Um menino de 18 anos que teve a mão cortada por causa de dívida de R$ 50 com um traficante.



ZH – O que pode ser feito?



Ana Paula – Não nos resta outra coisa a não ser trabalhar na prevenção. Claro que o Estado tem de investir em estrutura para atender esses viciados. Se não tiver como recuperar fica difícil de mudar nossa realidade. Muitos entram nisso por curiosidade. Temos de chegar neles antes disso.





Saiba mais

- Informações sobre o livro podem ser obtidas no site www.meninosdocrack.com.br



Fonte: Zero Hora, 24 de junho de 2010


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