Falha humana é cada vez mais <br> evidente em acidente da Gol
A suspeita de que o acidente entre o Boeing da Gol e o jato Legacy tenha sido provocado por falha humana ganha cada vez mais força. Análises da caixa-preta do jato confirmam que o transponder – equipamento que identifica o avião no radar – estava desligado. Com o transponder desligado, o avião não desaparece da tela do radar, mas o controlador de vôo passa a não conseguir identificar com exatidão a altitude da aeronave. Agora resta saber se o equipamento foi desligado pelos pilotos, os americanos Joseph Lepore e Jan Paul Paladino, ou se houve alguma falha técnica – hipótese pouco provável de acordo com especialistas da Aeronáutica.
Para complicar ainda mais a situação da tripulação do jato, o Legacy ignorou seu plano de vôo, pois deveria ter descido de 37 mil pés – rota do Boeing – para 36 mil pés ao passar por Brasília e mudar o rumo para Manaus, o que não aconteceu. Os pilotos, porém, afirmaram em depoimento à polícia de Mato Grosso, local do acidente, no domingo, que teriam recebido autorização da torre de controle de Brasília para voar a 37 mil pés (10 mil metros).
Mudança de rota
Controladores de vôo do Cindacta-1, em Brasília, afirmam que o contato com o Legacy foi tentado por cinco vezes para questionar se o avião tinha mudado a rota, mas não obtiveram resposta, o que ficou confirmado com as primeiras análises da caixa-preta do jato.
Como a falta do transponder faz com que a altitude não possa ser identificada com exatidão, os controladores observaram na tela do radar que o jato voava a uma altitude entre 35.800 e 36.500 pés, portanto, fora da rota do Boeing que estava a 37 mil pés. Especialistas acreditam que os pilotos do Legacy tenham desligado o transponder para executar manobras não autorizadas em seu primeiro vôo com o jato e assim, fugirem à supervisão das torres.
Falha nas torres de controle
Outra hipótese para o acidente, descartada pela Aeronáutica, seria a falha de comunicação entre as torres de controle de Brasília e Manaus. Pilotos da Gol afirmaram anonimamente ao Estado, no entanto, que a torre de Brasília deveria ter avisado a tripulação do vôo 1907 de que o jato Legacy não respondia aos alertas. Mas, de acordo com a Aeronáutica, essa atitude só se justificaria se os radares tivessem conseguido identificar a posição exata do jato Legacy.
A Aeronáutica alega também que o Boeing não foi avisado porque só se altera em último caso a rota de um vôo regular. Essa medida poderia provocar risco de mais colisões no ar.
Pontos cegos
O jornalista Joe Sharkey, que viajava no Legacy, afirmou nesta quarta-feira (4/10), em entrevista na rede de TV CNN, que o acidente teria sido acontecido devido ao controle precário de tráfego no espaço aéreo amazônico e por isso não teria ocorrido nenhuma conversa entre as torres de controle e a tripulação do Legacy.
O assessor de Segurança do Sindicato Nacional dos Aeronautas, Célio Eugênio de Abreu, afirmou ao Estado que na Amazônia há de fato pontos cegos – zonas em que as ondas eletromagnéticas não chegam a ser captadas por radar, mas nada que coloque um avião em risco.
Legacy ficou fora do radar por 15 minutos e recebeu 5 alertas
Os controladores de vôo do Cindacta-1, em Brasília, tentaram cinco vezes entrar em contato por rádio com o jato Legacy antes da colisão, na sexta-feira, com o Boeing 737-800 da Gol, que causou 155 mortes. O jato ficou com o transponder (que identifica o avião no radar) desligado 15 minutos antes do acidente. O Legacy só voltou a ser identificado na tela já sobreposto ao Gol, com um alerta de emergência. As gravações da caixa-preta do Legacy confirmam os relatos dos operadores e os registros do Cindacta-1.
O último alerta de rádio gravado na caixa-preta foi dado porque o jato estava no limite da cobertura do Cindacta-1 e devia passar a se comunicar com o Cindacta-4, de Manaus. O Legacy havia decolado de São José dos Campos e, depois de voar no eixo São Paulo-Brasília, s