Experiência colombiana de enfrentamento ao tráfico foi tema de palestra
A atração da noite desta quinta-feira no Congresso Internacional Crack e outras Drogas, no Salão de Atos da UFRGS, foi o diretor do Centro de Estudo e Análise em Convivência e Segurança Cidadã da Colômbia. Rúben Darío Ramírez apresentou a experiência colombiana no enfrentamento à drogadição. Mostrou como o país, estigmatizado pela produção e pelo tráfico de entorpecentes, conseguiu montar uma estrutura de ações para fazer frente ao problema.
Mas lá, assim como começa a acontecer no Brasil, as comunidades despertaram para a dimensão desse drama e passaram a atuar como obstáculo à consolidação das redes de tráfico. Os locais e formas de comercialização, abordagem a crianças e adolescentes na tentativa de formar novos consumidores passaram capaz de criar redes de proteção às crianças e aos adolescentes passaram a ser denunciados pelos alvos dos traficantes.
Conforme o especialista, um dos maiores méritos do levante social colombiano foi o que ele chamou de "inteligência social: a sociedade não estava mais disposta a conviver com o dinheiro oriundo do tráfico, ainda que sob o argumento falso de que ele estaria promovendo o crescimento econômico. "Entre as ações de governo surgiu um programa de proteção ao entorno das escolas, para resguardar os estudantes das investidas do tráfico".
Para Ramírez, a previsão é o fundamento da política pública de um Estado. E foi o que a Colômbia, em um determinado momento, fez. "Passamos a dar educação gratuita e alimento na escola, para que o jovem e a criança não precisem sair e estejam expostas ao tráfico, à pedofilia. Mais do que isso, todo jovem que saiu do colegio recebe um subsídio e passa por um processo de reinserção para voltar, evitando que se perca". Sob o entendimento de que o jovem precisa ocupar o tempo para ficar longe do crime. Por conta disso, Bogotá mantém bibliotecas abertas até 22h ou 23h. É a universalização da leitura como ferramenta alternativa.
Apesar de todas essas medidas e muitas outras adotadas por aquele país, a realidade colombiana ainda está longe de ser considerada ideal. Ramírez apontou também a responsabilidade internacional nesse processo de criminalização e estigmatização dos países chamados produtores. "Muitas vezes esses governos não têm força para atuar sozinhos contra o tráfico. E as nações consumidoras fazem pouco esforço para ajudar a frear o tráfico. É preciso o compromisso de todos para atuar de forma eficaz nesse problema mundial", finalizou.