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Em Rio Grande, cresce a perda de guarda - Zero Hora

Oficialmente, Gabriel não nasceu. Abandonado na maternidade pela mãe, viciada em crack, não tem certidão de nascimento. O bebê de dois meses e 15 dias é uma das muitas vítimas inocentes da epidemia da pedra em Rio Grande, no sul do Estado.

Prematuro, o menino foi entregue à Casa da Criança Raio de Luz. A mãe, de 20 anos, deu à luz no Hospital Universitário e partiu sem o filho. Coube às diretoras do Raio de Luz lhe darem um nome: Gabriel, em alusão ao anjo.

17/05/2010 Atualizada em 21/07/2023 10:59:16
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Oficialmente, Gabriel não nasceu. Abandonado na maternidade pela mãe, viciada em crack, não tem certidão de nascimento. O bebê de dois meses e 15 dias é uma das muitas vítimas inocentes da epidemia da pedra em Rio Grande, no sul do Estado.



Prematuro, o menino foi entregue à Casa da Criança Raio de Luz. A mãe, de 20 anos, deu à luz no Hospital Universitário e partiu sem o filho. Coube às diretoras do Raio de Luz lhe darem um nome: Gabriel, em alusão ao anjo.





A pedra se tornou o principal motivo de perda de guarda na cidade de Rio Grande.



– São mulheres jovens, perto dos 20 anos, que já abandonaram outros filhos. Viram escravas da droga e rejeitam seus filhos – explica a presidente da Raio de Luz, Rosinha Marzol.





O abandono não envolve apenas recém-nascidos. A Casa do Menor recebeu 15 crianças e adolescentes entre quatro e 15 anos em 2010. Todos de pais viciados. Até o momento, nenhuma criança conseguiu voltar para casa.





Vício separa mãe e seis de seus filhos





Retomar a guarda do filho mais velho é a atual obsessão de Tatiana, 30 anos. Pela droga, conheceu dois companheiros. Com eles, dos 19 aos 26 anos, teve seis filhos.



– Cheirava muita cocaína. Depois veio o crack. Quando via, estava esperando outro nenê – recorda.

 



A vida desregrada, com espancamentos e passagens por clínicas de reabilitação, custou a guarda das crianças. Dos seis filhos, cinco já foram adotados.



– Cada vez que eu perdia um, ficava deprimida e me drogava mais.



Em 2007, aceitou ajuda. Ficou um ano na comunidade Marta Maria, em Porto Alegre. Voltou a Rio Grande e reencontrou o amigo Letiele Neves, 31 anos, ex-usuário de crack, com o qual resolveu morar. Há sete meses, nasceu a primeira filha do casal, a sétima dela. Limpa, mantém as visitas semanais ao Centro de Atendimento Psicossocial. Tem tentado se reaproximar do filho de 10 anos, que visita no abrigo.

 



Tatiana tem um exemplo a ser seguido. Na Capital, Mariela Ferrari, 34 anos, é uma das poucas ex-viciadas que conseguiram recuperar a guarda. O pesadelo durou 11 meses, entre 2007 e 2008. Enquanto se tratava, as cinco crianças, entre quatro e 12 anos, viveram num abrigo da prefeitura. Enfrentando as consequências da abstinência e do desemprego, não perdia uma visita e até organizava festas de aniversário com bolo e refrigerante.





Depois de recuperada, o Conselho Tutelar começou a deixar os filhos irem para casa todos os fins de semana. Num dia, a Kombi do Conselho não voltou para buscá-los.



– Liguei para lá e me disseram que eu tinha recuperado meus filhos. Meu amor por eles venceu o crack – comemora.



Fonte: Zero Hora, 16 de maio de 2010


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