Carta psicografada é usada <br> como prova em julgamento
Os sete jurados da 1ª Vara do Júri de Viamão escutaram atentos quando o advogado Lúcio de Constantino leu o seguinte trecho de uma carta: "O que mais me pesa no coração é ver a Iara acusada desse jeito, por mentes ardilosas como as dos meus algozes. Por isso, tenho estado triste e oro diariamente em favor de nossa amiga para que a verdade prevaleça e para que a paz retorne nos nossos corações. Que Jesus nos abençoe a todos hoje e sempre. Um abraço fraterno do Ercy. 22/02/05". A carta seria apenas um elemento de Constantino em defesa da absolvição de sua cliente, acusada de homicídio, não fosse um detalhe: o Ercy que assina o documento é a própria vítima. O fato incomum ocorreu na tarde desta sexta-feira (26/5).
Na vara, era julgada Iara Marques Barcelos, acusada de mandar matar o tabelião Ercy da Silva Cardoso, executado com dois tiros na cabeça dentro de casa, na noite do dia 1° de julho de 2003. Na época, o caseiro da vítima, Leandro Rocha Almeida, revelou que havia sido contratado por Iara para dar um susto em Ercy, com quem a mulher supostamente mantinha um relacionamento. Ele, porém, negou a autoria do crime. Almeida e Iara foram acusados como responsável e mandante do crime, respectivamente. No seu julgamento, em julho do ano passado, Almeida voltou atrás: negou que tanto ele quanto Iara tivessem envolvimento com a morte de Ercy. Ele foi condenado a 15 anos e seis meses de reclusão.
Desde às 9h de quinta-feira, as atenções na cidade se voltaram para o julgamento de Iara. Durante os debates, Constantino sacou aquilo que considerava um trunfo: a carta supostamente psicografada pelo morto. O texto não dizia que Iara era inocente, mas dizia que "orava diariamente" por Iara e que esperava pela "verdade". No final da tarde de ontem, a sentença: os jurados absolveram a acusada por cinco votos contra dois. "Acho que foi o ponto de desequilíbrio no julgamento. Na saída, várias pessoas comentaram comigo sobre a carta. Não sou espírita, mas estudei espiritismo para este júri", explicou Constantino.
Para a promotora Luciane Feiten Wingert, que pleiteava a condenação de Iara, a carta psicografada por Jorge José Santa Maria, da Sociedade Beneficente Espírita Amor e Luz, não teve maior importância. "Não acredito que ela tenha sido absolvida pela carta. Acho que pesou mais a declaração do caseiro, que já foi condenado", opinou Luciane.
Como os jurados não fundamentam seus votos, é improvável que se descubra o real peso da mensagem do além lida em plenário. Conforme a juíza da 1ª Vara do Júri Jaqueline Höfler, o documento foi anexado em tempo legal e a parte contrária não o impugnou.
Fonte: Jornal Zero Hora