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Brinquedos viraram fumaça - Diário Gaúcho

O carrinho, a bola e a boneca foram trocados pelo cachimbo, pelo isqueiro e pelo crack. Depois de atacar adultos e adolescentes, a pedra maldita está agora viciando crianças.

Elas abandonam lares e escolas e, até, traficam. As autoridades ainda não têm estatísticas sobre as crianças (entre zero e 12 anos) viciadas. No Estado, só o Hospital Psiquiátrico São Pedro (HPSP), na Capital, tem leitos infantis pelo Sus – e 50% deles são ocupados por usuários de crack.

26/05/2010 Atualizada em 21/07/2023 10:58:32
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O carrinho, a bola e a boneca foram trocados pelo cachimbo, pelo isqueiro e pelo crack. Depois de atacar adultos e adolescentes, a pedra maldita está agora viciando crianças.



Elas abandonam lares e escolas e, até, traficam. As autoridades ainda não têm estatísticas sobre as crianças (entre zero e 12 anos) viciadas. No Estado, só o Hospital Psiquiátrico São Pedro (HPSP), na Capital, tem leitos infantis pelo Sus – e 50% deles são ocupados por usuários de crack. Em uma série de reportagens, de hoje até sexta-feira, o Diário Gaúcho contará como a infância está se esvaindo na fumaça da pedra.

marceloliveira.jpgPrimeira pedra aos quatro anos



Sentado em um banco da sala de espera da emergência do HPSP, está um menino de sete anos. É miúdo e os olhos não param um minuto.



Embora matriculado, não vai às aulas. Não sabe ler nem escrever. E o sonho de ser cobrador de ônibus está cada dia mais distante. As brincadeiras com carrinhos e com os irmãos viraram fumaça, como o crack que fumou.



Há três anos esse menino, da Região Metropolitana, experimentou a primeira pedra. Ela foi levada pelo irmão mais velho, hoje com 14 anos. Agora, pela primeira vez, ele espera para ser internado.



– Mãe, nós vamos para casa, né?!



– Vai depender do doutor – responde a mãe, de 34 anos.



No mesmo banco está um dos irmãos do menino, de dez anos. Com o olhar perdido, ele mal nota a conversa. De repente, bate a cabeça na parede. A mãe comenta:



– É sempre assim. Na última vez, ficou tão agressivo que quebrou um vidro da janela de casa.

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O pequeno, mais agitado, conta que viviam na rua, na Capital. Dormiam próximo dos banheiros na Praça XV ou, se chovia, debaixo de um viaduto.



– A gente pedia – resume.



Era assim, esmolando e cuidando de carros, que arrumavam dinheiro para a comida e o crack. O mais velho buscava as pedras – e ficava com a maior parte. Foram achados pela mãe e por PMs. O de 14 anos fugiu.



Os irmãos foram levados ao HPSP pelo Conselho Tutelar. Como não havia leito para o caçula, ele voltou para casa com a recomendação de tomar um remédio. O irmão de dez anos ficou. Serão 20 dias de internação.



 Crianças envolvidas com crack

- E a latinha virou cachimbo...



Era só uma lata de refrigerante. Uma criança poderia transformá-la em um carrinho, um chocalho, ou virar um foguete. Mas virou um cachimbo de crack nas mãos do menino de sete anos.



Depois de contar quantas pedras fumava por dia e que a sensação após a primeira tragada "dá uma coisa nas veias da gente", ele resolveu brincar. Começou a amassar a lata enquanto a mãe dizia que ele não tomava jeito, que ela já havia tentado de tudo.



- “É assim que a gente faz”



De repente, o menino disse:



– É assim que a gente faz. Faz um furinho, coloca um pozinho do fogo (cinza) e a pedra. Aí vem com aquela coisa que sai um foguinho (isqueiro) e queima. E faz assim (demonstrou, sugando o ar da lata).



E ficou brincando. Colocava o anel sobre a lata, fazia como se estivesse com um isqueiro, sugava o ar e fingia um arrepio. Tudo sem repreensão da mãe.



Cotidiano de crianças dependentes de crack

- Oito crianças internadas



Em Viamão, o Conselho Tutelar, nos primeiros cinco meses de 2010, levou para internação no HPSP oito crianças de até 12 anos. O número de atendimentos, no entanto, é bem maior.



Isso porque, quando não há leito disponível, a criança é medicada e mandada de volta para casa. Mesmo assim, não há número oficiais que digam quantas crianças estão reféns da pedra na cidade.



– Na maioria das vezes são casos que chegam para nós por denúncia ou crianças que são retiradas das rua – ressalta a conselheira Eliane Collares Aliano.



Para a promotora da Infância e Juventude de Viamão, Daniela Lucca da Silva, se a atenção das autoridades fosse voltada aos pequenos, as internações na adolescência diminuiriam. Por semana, ela encaminha à Justiça ao menos um pedido de internação judicial para adolescentes. Este ano, 22 jovens já foram encaminhados para tratamento.



– Em Viamão não temos uma estrutura adequada para os adolescentes. E nenhuma para as crianças – revela Daniela.



Uma rua tomada pela droga



O histórico de uma família chocou os conselheiros tutelares de Viamão.



– São cinco irmãos. Quatro são viciados –conta a conselheira Eliane Aliano.



A história veio à tona em abril. Sem nunca terem frequentado a escola, os cinco – de 14, 12, dez, oito e seis anos – viviam em uma pequena casa. Filhos de mãe alcoólatra, moravam com outros viciados. Começar no crack foi quase natural.



Hoje, os três mais velhos estão internados. O Ministério Público acionou a prefeitura para conseguir as vagas. Já os mais novos estão em um abrigo municipal:



– Lembro do menino de oito anos no hospital quando chegou a primeira refeição. Comeu como se não comesse nada decente há um bom tempo. Depois disse "tia, nem lembro mais a última vez que comi uma comida assim".



Em outra casa na mesma rua vive uma menina de dez anos. Neta de uma traficante, ela recebe crack em pagamento por serviços que faz à avó. A menina já foi internada, mas voltou para casa e para o crack.



"Só quero ficar limpo"



Enquanto um garoto de 13 anos conta a própria história, a tranquilidade esconde o passado recente de quem se envolveu com o mundo das drogas aos nove anos. Primeiro, o álcool. Então, vieram o cigarro, a cola de sapateiro, a maconha e a cocaína. Para ver se o "barato" poderia ser maior, chegou ao crack:



– Não gostava do que eu sentia quando usava pedra. Eu andava de bicicleta, mas parecia que estavam me perseguindo. Tudo muito louco.



Mais novo de três irmãos, foi o único a se tornar dependente de drogas. Na escola, onde era reconhecido pelas boas notas, virou o "brigão e drogado". Com 11 anos, tornou-se traficante.



– Fiquei nesta por um mês. Usava o dinheiro para mais droga – lembra.



Quando viu que não sairia sozinho do fundo do poço, pediu ajuda à família. Pela primeira vez, ele está no Retiro Comunitário de Reabilitação Ocupacional (Recreo), em Montenegro:



– Já saí duas vezes para visitar minha família. Meus amigos que me abandonaram com medo, até jogaram bola comigo. Só quero sair, voltar a estudar e ficar limpo.



Crack nas ruas

Não é difícil encontrar crianças consumindo crack nas ruas de Porto Alegre. Basta um olhar apurado, como fez o fotógrafo Marcelo Oliveira, ontem. Embaixo do Viaduto Conceição, três meninos exibiam os cachimbos usados no consumo de crack.



O grupo se reúne próximo a um estacionamento ao lado da Rodoviária – local que eles apelidaram de “fumódromo”. No lugar do almoço, apenas a pedra.



– Sem cerimônia, um deles fumou na minha frente. O cheiro era muito forte. Quem passou por nós não se importou com a triste cena que eu estava presenciando – comenta Marcelo.



Os efeitos



- Pele envelhecida



- Tosse constante, chegando a pneumonite (inflamação nos pulmões)



- Inibição do apetite



- Perda de peso



- Perda dos valores éticos



- Pode ter problemas no aparelho cardiovascular



- Impulsividade maior



- Perda da motivação para atividades prazerosas



- Perda da capacidade de articulação de ideias



Sinais de alerta



- As mentiras se tornam comuns.



- A criança passa a inventar histórias para conseguir dinheiro com conhecidos (vizinhos e familiares).



- Pratica pequenos furtos em casa e na escola.



- Falta aulas com mais frequência.



- Tem oscilações de humor.



- Tem alterações no sono.



- Se opõe e desafia os adultos.



- Passa a se comunicar por meio de gírias ou jargões.



- Os períodos de irritabilidade se tornam maiores (motivados pela fissura).



Números



- O Hospital São Pedro tem apenas DEZ leitos para internação de crianças.



- Em média, cinco são usados para tratamento de crack.



- Uma prefeitura gasta cerca de R$ 6 mil para internar um usuário por um mês.



Fonte: Jornal Diário Gaúcho, 26 de maio de 2010


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