Há cerca de um ano, a rotina tranqüila da comunidade de Jaguarão, na fronteira com a uruguaia Rio Branco, começou a mudar. A transformação veio no rastro da infiltração do crack. O crescimento do número de casos de adolescentes apreendidos em função de infrações relacionadas à droga despertou a atenção e mobilizou diferentes segmentos da sociedade. E a reação começa a ser colocado em prática. “Estamos desenvolvendo o Projeto Livre Escolha”, por meio do qual vamos orientar professores, pais e alunos da rede pública acerca dos desdobramentos do envolvimento com as drogas, especialmente o crack”, justifica o promotor de Justiça Adriano Pereira Zibetti, um dos atores dessa iniciativa.

Reuniões realizadas desde abril entre integrantes do Ministério Público, da Polícia Federal, do Executivo local, do Conselho Tutelar e do Conselho Municipal da Criança e do Adolescente deram o rumo a ser seguido. Conscientes de que as condições de recuperação de um dependente do crack são extremamente precárias e que o índice de reincidência beira os 100%, eles resolveram concentrar esforços na prevenção.

Nesta quinta-feira (4) à noite, pais de alunos de duas escolas das redes municipal e estadual deverão participar de um encontro em um salão da comunidade de Santo Antônio. Será uma conversa franca, aberta, com o objetivo de apresentar a realidade desse drama a quem, de fato, estiver disposto a impedir que os filhos acabem seduzidos pelas drogas. É a segunda etapa de uma ação desencadeada no dia 21 de maio.

Naquela data, um encontro promovido na Casa de Cultura do município reuniu professores de duas escolas para receberem orientações sobre o tema e, inclusive, se familiarizarem com a pedra. “Era preciso mostrar a eles, uma vez que as escolas são ambientes de fácil circulação da droga. Os professores têm de se familiarizar com isso, pois o problema existe”, observa Zibetti.

A idéia é levar o assunto também aos estudantes. A diferença serão as formas de abordagem com os educadores, os pais e os alunos. Realidades diferentes exigem tratamentos diferenciados para que os efeitos desejados sejam alcançados. Por isso, uma cartilha foi confeccionada, com uma série de informações sobre os diferentes tipos de drogas, seus efeitos físicos e psicológicos. 



O material foi distribuído entre a comunidade e em bibliotecas. Camisetas e adesivos também deverão ser produzidos com o objetivo de divulgar o projeto e alertar a população. “São medidas quer estão ao nosso alcance neste momento, já que a estrutura da cidade para tratamento é muito precária. Temos apenas seis leitos para tratamento de alcoolismo ou toxicômanos no Hospital Santa Casa. Claro que é insuficiente, embora saibamos como é difícil trabalhar com um dependente”, explica o promotor.

Zibetti vem conversando com a Secretaria de Saúde do município e sugeriu algumas ações que poderiam ser implantadas com recursos do governo federal, mas que necessitariam ser usados para atender também outros municípios. “Há algumas dificuldades nisso, mas vamos ver o que conseguimos. Por ora, vamos nos concentrar muito na abordagem das crianças e dos jovens, pois eles são os mais vulneráveis nesse processo. E cada um que consigamos manter fora da drogadição tem de ser considerado uma conquista”, finaliza o promotor.