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Avó cuida dos netos porque filha adolescente é viciada em crack - Diário Gaúcho

Ana Lúcia da Costa, 42 anos, é uma mulher protetora. Separada do marido, mãe de quatro filhos e avó de três crianças, enfrenta um problema avassalador nas famílias: a filha de 17 anos é usuária de crack.

A adolescente tem dois filhos, um menino de três anos e uma menina de dois. Filhos de pais diferentes e com destinos incertos.

07/06/2010 Atualizada em 21/07/2023 10:59:23
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Ana Lúcia da Costa, 42 anos, é uma mulher protetora. Separada do marido, mãe de quatro filhos e avó de três crianças, enfrenta um problema avassalador nas famílias: a filha de 17 anos é usuária de crack.



A adolescente tem dois filhos, um menino de três anos e uma menina de dois. Filhos de pais diferentes e com destinos incertos.



A avó assumiu criá-los. Vencidos os problemas de saúde quando nasceram prematuros, aguarda o desenrolar do processo onde pede a guarda à Justiça da Infância.



— Eu tinha avisado: o primeiro eu crio, um segundo filho não vou criar. Mas não consegui deixar a pequena para adoção. É meu sangue — conta Ana Lúcia, merendeira em uma creche na Grande Florianópolis.



A decisão pesou. Temia o sofrimento anterior, de horas ao lado de uma incubadora, a permanência do bebê em uma UTI neonatal, as dificuldades para conseguir leite. Por a filha ter usado crack na primeira gestação, o menino nasceu com problemas respiratórios.



Talvez pelo mesmo motivo, a menina tenha um comportamento de irritabilidade constante. Pouco sabe pedir, mas chora com frequência.



Não apenas a situação das crianças preocupa. Mas o comportamento da filha quando o crack está fazendo efeito:



— Ela fica agressiva, não ouve ninguém e nem olha para os filhos. Passa dias na rua, dorme sob viadutos, não se alimenta. Quando volta é porque está muito mal. Chega machucada e suja — conta Ana Lúcia.





O retrato deste abandono foi observado pelo neto, de três anos:



— Vó, quando a mãe tá na estrada (rua), ela nem olha pra gente.



Na última gravidez, a adolescente conseguiu amamentar por 15 dias. Mas o leite logo secou. Em seguida, ela ganhou as ruas. Ficou quase um mês fora.



— Fiz um grande esforço para comprar leite em pó. Minha renda é de cerca de R$ 500 — explica Ana Lúcia, que recebe bolsa-família pela filha adolescente.





Com a guarda, poderá ter o salário ampliado.



Além da alimentação, outro problema:



— Consegui fraldas de pano, mas a menina ficava com as pernas irritadas e tivemos que comprar descartáveis.





Ana Lúcia tem uma rotina pesada: levanta às 6h, dá banho nas crianças, as deixa nas creches (lugares diferentes), trabalha até as 18h. Retoma o caminho da casa, onde cuida dos afazeres domésticos. Pelo imóvel, paga um aluguel de R$ 51 para a prefeitura.





Na véspera do feriado de Corpus Christi, Ana Lúcia fez seus planos: como não tinha que trabalhar, imaginou dormir um pouco mais. Chovia quando foi acordada por batidas violentas na porta. Mais uma vez a filha voltava das ruas. Como sempre, gritava para a mãe abrir a porta. Todos acordaram.





Crianças chamam a avó de mãe



Ao lado da mãe, a moça conta sua história:



— Eu não tive infância. Com nove anos usava droga. Me sinto melhor sem usar, mas o problema é que não consigo parar.



A adolescente, que estudou até a quarta série, conta dos nove meses que ficou em uma fazenda terapêutica. Lembra do trabalho duro, da saudade da mãe e dos filhos:



— Quando eu estou doida, fico sem noção, mas sem usar lembro de tudo. Lá na fazenda, eles fazem a gente trabalhar pesado, mas o problema do usuário não é físico, é da mente — afirma.



Ana Lúcia conversa com a filha. Tenta mostrar que está perdendo momentos importantes da vida das crianças, como os primeiros passos, o aprender a falar, as descobertas da infância.



— Filha, até de mãe eles estão me chamando. Eu não me importo, mas a mãe é você.



Ela também parece não se importar. Sabe que proteção melhor seus filhos não terão.



Abstinência e solidão em bebês



Crianças filhas de usuárias de crack são vítimas em potencial de problemas de saúde.  Estão entre os com maior índice de nascimento prematuros. De modo geral, a exposição às drogas pode ocorrer entre 30% e 50% dos recém-nascidos vivos. A observação é da médica Renata Gonçalves, pediatra e coordenadora da UTI Neonatal do Hospital Dona Helena, em Joinville.



Um dos quadro mais delicados enfrentados pelos profissionais destas áreas, especialmente em hospitais da rede pública, é o bebê que apresenta síndrome de abstinência. O problema é mais intenso nos primeiros cinco dias de vida, mas pode se estender até os 15 dias



Bebês nestas condições podem apresentar manifestações em vários sistemas do organismo. Alguns são bem visíveis:  baixo peso, choro estridente característico e convulsões.



— A gente também encontra bebês depressivos. Isso ocorre por que a mãe, em via de regra, não acompanha a criança como deve ser: não faz o contato da pele, não pega no colo. São bebês tristes e irritados, que muitas vezes se quer responde a um olhar — diz a médica.



Outros fatores são a dificuldade de sucção, diarreia, vômitos, febre, tremores, sudorese excessiva e palidez.



De imediato, os problemas neonatais relacionados ao crack são: sofrimento fetal, asfixia, prematuridade, baixo peso, diminuição do comprimento e do tamanho da cabeça e alterações do comportamento. Outros problemas no recém-nascido estão associados ao potencial risco de transmissão de doenças cuja incidência acaba sendo maior em usuárias de drogas, como sífilis e HIV.



O vinculo mãe-filho costuma ser afetado



Outra consequência do uso da droga é o abandono da criança, já no hospital.



O consumo do crack, apesar de ter crescido entre todas as camadas, ainda está associado às de menor poder aquisitivo como moradores de rua. Muitas mães com a dependência já chegam aos hospitais com registros em programas e serviços sociais, como conselhos tutelares e abordagem de rua. Uma avaliação social permite identificar se possuem ou não condições de permanecer com o filho. Quando isso não ocorre, o bebê já fica para a adoção.



Crianças têm problemas físicos e de raciocínio



A criança gerada nestas condições também pode demonstrar dificuldade de aprendizagem na linguagem, raciocínio, compreensão verbal e memória. O sofrimento físico também pode ser grande: estrabismo, hipertensão arterial, hipertonia muscular (aumento anormal do tônus muscular ou do tônus de um órgão).



A prevalência de drogas ilícitas na gestação é difícil de determinar, porque as gestantes omitem essa informação.



Mas existem estatísticas de que 85% das consumidoras de drogas estão em idade fértil, ou seja, entre 15 e 40 anos, e que cerca de 30% são consumidoras antes dos 20 anos, o que demonstra um longo período de risco com a utilização da droga.



Falta loca adequado para tratar crianças e usuários

Santa Catarina não oferece um lugar adequado onde crianças e adolescentes possam tratar a dependência química. Isso ocorre principalmente quando se trata de famílias com maior vulnerabilidade social. O problema é sério e torna-se ainda mais grave quando as adolescentes já possuem filhos. Com isso, uma das prerrogativas básicas que é manter mães e filhos próximos não é obedecida. Quando são encaminhadas para centros terapêuticos, as jovens ficam isoladas. Além disso, os serviços disponíveis quase não oferecem atividades como oficinas onde além do tratamento a paciente possa participar de atividades que despertem interesse de um jovem.



— Esta é uma reivindicação dos conselhos tutelares. A gente acompanha os casos e sabe da dificuldade que é não apenas conseguir uma vaga, mas também contar com um serviço adequado — explica Scheila Thomé, conselheira tutelar no Continente, em Florianópolis.



Por outro lado, observa a conselheira, a permanência das jovens mães na rua acarreta outra situação comum e preocupante:



— Quando a família da adolescente não é protetiva, ela pode ir para a rua usar drogas. Algumas levam os filhos, o que os deixa também em situação de vulnerabilidade —diz Scheila.



Muitas vezes o Conselho Tutelar é acionado. Dependendo da situação (quando não existem condições do retorno ao lar ou algum familiar ser identificado para receber os filhos pequenos), as crianças seguem para um abrigo. Depois, caberá a justiça da infância decidir os rumos:



— Muitas vezes a destituição do poder familiar é a saída. É claro que a adoção é um caminho, e muitas vezes o melhor. Mas um lugar adequado para o tratamento das jovens mães poderia levar a sua recuperação e a manutenção dos vínculos familiares —observa a conselheira.



Fonte: Jornal Diário Gaúcho


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